Damares é alvo de críticas após fazer denúncias, sem provas, sobre práticas de tortura que supostamente ocorreriam contra crianças sequestradas na ilha do Marajó.
Por Taymã Carneiro, g1 Pará — Belém
Damares Alves durante agenda em Belém. — Foto:
Cristino Martins / O Liberal
Nesta terça-feira (18), políticos do Pará anunciaram medidas
contra a ex-ministra Damares Alves, em retaliação à falta de provas sobre as
denúncias feitas por ela sobre práticas de tortura que supostamente ocorreriam
contra crianças sequestradas na ilha do Marajó. De acordo com o Ministério
Público Federal (MPF), em 30 anos, nenhuma denúncia sobre tráfico de crianças
no Marajó mencionou torturas citadas por Damares.
No sábado (8),
durante culto na igreja Assembleia de Deus Ministério Fama, em Goiânia, a ex-ministra
do governo de Jair Bolsonaro (PL) afirmou que
crianças do Marajó são traficadas para o exterior e submetidas a mutilações
corporais e a regimes alimentares que facilitam abusos sexuais. No discurso,
Damares descreveu com detalhes escatológicos o que ela diz ter sido descoberto
pelo governo.
Ela disse também que
"explodiu o número de estupros de recém-nascidos" e que no Ministério
da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH) há imagens de crianças com
oito dias de vida sendo estupradas e que um vídeo com esse tipo de conteúdo é
vendido por preços entre R$ 50 e R$ 100 mil.
O deputado estadual
Carlos Bordalo (PT) destaca que tais crimes nunca foram antes denunciados,
conhecidos ou até mesmo comprovados pelos órgãos públicos de segurança do
Estado. Muito menos por Organizações não Governamentais (ONGS) e principalmente
pelas duas Comissões Parlamentares de Inquéritos (CPI), instaladas pela Casa
Legislativa, como a CPI da pedofilia, CPI do tráfico humano, das quais, ele
enquanto parlamentar, participou diretamente. E ainda enfatiza que foi relator
na CPI do Tráfico Humano e na CPI da pedofilia como propositor e membro nato.
De acordo com
Bordalo, a fala de Damares é "um discurso criminoso e que tem como
objetivo criar pânico moral".
Além do MPF, a
Polícia Civil do Pará informou que não há investigações relacionadas às
denúncias. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski mandou
à Justiça Federal do Pará um pedido de investigação das falas da ex-ministra
sobre abuso sexual infantil. A investigação corre sob sigilo.
Revogação do título
de 'Cidadã do Pará'
O
deputado Bordalo (PT) apresentou nesta terça-feira (18), durante sessão
ordinária na Assembleia Legislativa do Pará (Alepa), Projeto de Decreto
Legislativo que pede a revogação do Título de “Cidadã do Pará” a Damares Regina
Alves, ex-ministra da pasta da Mulher, Família e Direitos Humanos do atual
Governo Federal e recém-eleita senadora do Distrito Federal.
Bordalo justifica na proposição que, “Damares vem se utilizando
do Programa Abrace o Marajó para fins eleitoreiros, sem a participação popular,
levando a frente uma agenda que não engloba demandas históricas das populações
tradicionais da região, utilizando estratégias de disseminação de mentiras e
informações sem fundamentos sobre crianças e famílias da Ilha do Marajó”.
Segundo o deputado,
tais atitudes vão contra a postura exigida para o recebimento do título.
Segundo o §1º do Art. 259 do Regimento Interno da Casa Legislativa, para a
concessão de títulos honoríficos de “Cidadão do Pará” e “Honra ao Mérito” são
conferidos, privativamente, pelo Poder Legislativo, a personalidades,
brasileiras ou não, que tenham prestado reais e efetivos serviços ao Estado do
Pará, ou que mereçam a homenagem em decorrência de extraordinária e atuação por
mérito. Contudo, para Bordalo as denúncias sem base de Damares e a má
utilização do Projeto Abrace Marajó merecem a revogação do título.
Punição
A
deputada Marinor Brito (PSOL) requereu, através de notícia-crime encaminhada ao
Ministério Público Federal Eleitoral, instauração do procedimento competente
para apuração e punição da ex-ministra e senadora eleita Damares Alves, pela
prática de violência política, crime eleitoral, prevaricação, e submissão de
menores ao constrangimento.
“Diante destes
crimes flagrantemente cometidos pela ex-ministra Damares Alves em suas
declarações, é preciso que se apure o quanto antes, para que ela seja
devidamente responsabilizada o quanto antes por suas declarações irresponsáveis
e desumanas”, declarou Marinor.
Os crimes apontados
pela representação da deputada Marinor constam no art. 359-P e art. 319, ambos
do Código Penal; no art. 299, do Código Eleitoral e no art. 232 constante no
Estatuto da Criança e do Adolescente.
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