Aos 23 anos, Larissa Vitória conclui a graduação e ganhou uma festa no Hospital, organizada pelo Serviço de Terapia Renal Substitutiva
Por Lucila Pereira (HC)
Larissa Vitória é cardiopata e usuária de marcapasso e ganhou o carinho de profissionais da saúde e familiares no HCFoto: Divulgação
Formar-se no ensino superior já é um desafio para muitos jovens, mas para quem convive com uma rotina intensa de tratamento renal — com sessões de hemodiálise, três vezes por semana, dia sim, dia não, ou até diariamente nos casos mais graves —, a conquista se torna ainda mais grandiosa. Na contramão das estatísticas, Larissa Vitória, 23 anos, paciente renal crônica e em tratamento no Hospital de Clínicas Gaspar Vianna (HC), celebrou sua formatura em Enfermagem após quatro anos conciliando estudo e diálise. A comemoração ganhou um momento especial: a equipe do Serviço de Terapia Renal Substitutiva (TRS) organizou uma festa surpresa para homenagear a nova profissional da saúde.
Cardiopata e usuária de marcapasso, Larissa desenvolveu doença renal crônica em decorrência do problema cardíaco. Dependente da hemodiálise e passando por longos períodos de fragilidade física, ela precisou driblar limitações de tempo, energia e deslocamento para continuar estudando.
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“Foi algo assim bem difícil. Eu lembro que no começo a minha mãe que me levava, ela me levava, me esperava, porque quando eu comecei eu ainda estava bem debilitada. Muitas vezes, eu fiquei sem ir também e estudava online em casa. Ela foi a minha maior incentivadora. Ela que me inscreveu, ela que me matriculou, na verdade. E ela só chegou comigo e disse: ‘olha, eu te inscrevi e tu vais comigo, a gente vai dar um jeito’. Eu dizia: ‘Mas como que eu vou desse jeito?’ E ela respondia: ‘Minha filha, a gente vai, a gente vai dar um jeito, tem jeito pra tudo’”, lembra Larissa.
A convivência diária com a equipe multiprofissional e a curiosidade pelo funcionamento do setor a motivaram a escolher o tema do Trabalho de Conclusão de Curso: a importância da enfermagem na hemodiálise.
Larrisa Vitória com o irmão e a mãe, que foi a maior incentivadora para que ela entrasse na faculdadeFoto: Divulgação
“Antigamente eu não sabia nem que existia hemodiálise. Eu só sabia sobre transplante de rim, eu não fazia ideia do que podia afetar os rins. Então, quando eu comecei, descobri um mundo totalmente diferente. Tem muitas coisas que as pessoas não sabem, assim como eu lá no início. Quando comecei a acompanhar a equipe, entender como funciona, fiquei curiosa. Não é que eu queira trabalhar na área, mas achei muito interessante esse mundo da enfermagem na hemodiálise. Por isso escolhi esse tema”, conta.
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Durante a surpresa, profissionais que acompanharam a jovem desde os primeiros meses não esconderam o orgulho. “Um exemplo de perseverança, de luta. Um exemplo aos colegas que acham que por terem uma doença crônica é o fim. Buscou um lugar ao sol, é um orgulho pra equipe e para o hospital que se dedica a dar um tratamento de qualidade e ver o resultado transformado em superação. Uma pessoa que poderia se conformar com os benefícios que tem direito e poderia se acomodar, mas que decidiu fazer e conquistar seu espaço no mercado de trabalho. Iniciou uma caminhada e demonstrou que não vai parar por ai. Uma paciente que saiu da faculdade cheia de sonhos, e no que depender desta equipe que a acompanha a anos irá voar longe”, destacou, emocionada, a enfermeira Kely Freitas, que acompanha a trajetória da paciente.
A formatura de Larissa reforça o papel do acolhimento e do cuidado humanizado no tratamento renal crônico. No HC, referência estadual em nefrologia e cardiologia, a história da jovem se tornou motivo de celebração coletiva e inspiração para outros pacientes.
O suspeito carregava parte da droga em sacolas. O restante estava em um imóvel desabitado, utilizado como ponto de armazenamento de entorpecentes
Por Jeniffer Terra (PC)
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A Polícia Civil do Estado do Pará, através da Superintendência Regional de Carajás, prendeu em flagrante delito, no início da tarde desta segunda-feira (24), um homem pelo crime de tráfico interestadual de drogas. Durante a ação policial, que aconteceu de forma integrada com a Seccional Urbana e com a Delegacia de Homicídios (DH) de Parauapebas, aproximadamente 40 quilos de entorpecentes foram apreendidos no interior do imóvel do investigado.
“Nós recebemos uma informação indicando um possível local utilizado para armazenamento de entorpecentes. A partir dessa notícia, iniciamos a vigilância no endereço informado e, no local, conseguimos avistar um homem portando duas sacolas. Nós o abordamos, realizamos uma busca pessoal e localizamos substâncias entorpecentes no interior das sacolas. Imediatamente ele recebeu voz de prisão em flagrante e, ao ser questionado, admitiu que havia mais drogas no interior da casa”, detalhou o delegado João Abel Mattos, titular da Superintendência Regional de Carajás.
Em seguida, os policiais procederam à busca no imóvel, onde encontraram cerca de 40 quilos de drogas, sendo 28 kg de maconha, 8 kg de crack e 3 kg de cocaína, além de balanças de precisão e materiais utilizados para embalar os entorpecentes. “A casa estava desabitada, funcionando exclusivamente como ponto de armazenamento de drogas. As investigações também apontaram que o entorpecente tinha origem no Estado do Maranhão, o que caracteriza tráfico interestadual de drogas. A quantidade de substância apreendida representa um expressivo golpe contra o tráfico de drogas na região de Carajás”, continuou o delegado.
O preso e todo o material apreendido foram apresentados na Seccional Urbana de Parauapebas para a lavratura dos procedimentos legais cabíveis.
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A ação demonstra a efetividade do trabalho integrado das unidades da Polícia Civil, reafirmando o compromisso institucional com o combate ao tráfico interestadual de drogas, o enfraquecimento financeiro de organizações criminosas que atuam na região e o combate às organizações criminosas.
“Esta ação é fruto do trabalho conjunto das nossas unidades e do emprego de inteligência policial voltada à desarticulação das estruturas financeiras das facções. A apreensão de 40 quilos de drogas e a prisão do responsável demonstram que a Polícia Civil do Pará está atuando com firmeza, planejamento e resultados concretos. Seguiremos comprometidos com a proteção da sociedade e o fortalecimento da segurança pública em toda a região de Carajás”, finalizou a autoridade policial.
Painel destaca ferramentas do Pará para prevenir riscos e reduzir impactos de desastres naturais
Por Jamille Leão (SEMAS)
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Durante o painel “Monitoramento Hidrometeorológico e de Qualidade do Ar realizado pelo Estado do Pará, como ferramenta de preparação, mitigação aos impactos e redução de riscos frente aos desastres naturais”, promovido como parte da programação do Pavilhão Pará, na 30ª Conferência das Partes (COP30), em Belém, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Clima e Sustentabilidade (Semas) destacou a importância de suas ferramentas e produtos de monitoramento ambiental para o planejamento e gestão de crises decorrentes de eventos climáticos extremos.
A apresentação do painel engloba diversas áreas e concentra-se especialmente em três pilares fundamentais: monitoramento hidrometeorológico, que é o monitoramento das condições de tempo, clima e nível dos rios, incluindo questões de inundações e seca e o nível dos rios, crucial para a prevenção; qualidade do ar: fundamental para a saúde pública, especialmente em períodos de queimadas; e focos de queimadas: informações essenciais para o combate e a prevenção de incêndios florestais.
As informações geradas pelos sistemas são essenciais e utilizadas desde o planejamento ambiental até a gestão em tempos de eventos extremos. “Nos anos de 2023 e 2024, a região amazônica enfrentou uma grande seca, considerada uma das mais severas da história recente. Essa estiagem prolongada exigiu a intensificação do monitoramento e do planejamento estratégico por parte da Semas para a redução de impactos”, destacou o coordenador de Monitoramento Ambiental da Semas, Antônio Sousa.
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Importante na prevenção de desastres, o monitoramento da Semas indicou um agravamento da seca no leste do Pará, devido à redução das chuvas e do nível dos rios, no ano de 2024. O trabalho de monitoramento é visto como um esforço contínuo para enfrentar as mudanças climáticas e garantir segurança e o planejamento na região.
Neste ano, o Pará tem se consolidado como exemplo nacional no avanço das mitigações dos impactos ambientais. Em agosto de 2025, por exemplo, o Pará obteve um dos melhores resultados no enfrentamento ao fogo, registrando uma redução de 90,5% nos focos de incêndio florestal em relação ao mesmo mês do ano passado, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
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Esses, entre outros resultados positivos alcançados, se devem, para além do monitoramento hidrometeorológico realizado constantemente, ao fortalecimento das operações de comando e controle realizadas pelo governo do Estado. Juntando todas as ações, as ações estaduais de monitoramento e combate têm um papel fundamental para alcançar o desempenho positivos
Nesta semana, governo anunciou pacotes de direitos, educação, saúde, titulação de terras e políticas permanentes que fortalecem a luta por justiça racial no Estado
Por Governo do Pará (SECOM)
Foto: Marco Santos / Ag. Pará
Nesta quinta-feira (20), Dia Nacional da Consciência Negra, o governo do Pará lembra a data com ações estratégicas voltadas ao fortalecimento das comunidades quilombolas e ao avanço das políticas de igualdade racial. A efeméride celebra a luta, a resistência e a memória de Zumbi dos Palmares, líder do maior quilombo da história do Brasil e símbolo da resistência negra contra a escravidão.
Neste ano de 2025, iniciativas realizadas por meio da Secretaria de Estado de Igualdade Racial e Direitos Humanos (Seirdh) consolidaram políticas públicas, ampliaram direitos e reforçaram a participação social.
Para a titular da Seirdh, Edilza Fontes, o Dia da Consciência Negra representa um reconhecimento histórico e um compromisso permanente com a reparação e a igualdade. “A escolha do 20 de novembro como Dia da Consciência Negra é fruto da luta do movimento negro, que reivindicou Zumbi dos Palmares como símbolo de resistência à escravidão. Reconhecer essa data significa admitir que a sociedade brasileira foi profundamente discriminatória e que ainda temos muito a reparar”, afirmou.
A secretária também destacou o papel institucional da Seirdh no enfrentamento ao racismo e na formulação de políticas públicas. “A criação da Seirdh, em 2023, é um avanço do Estado ao reconhecer que o racismo existe e precisa ser combatido com ações concretas. Hoje trabalhamos com quilombolas, demarcação de territórios, letramento, acolhimento, Conselhos de Igualdade Racial e Quilombola, além do combate ao trabalho análogo à escravidão. É um compromisso com uma sociedade mais justa e igualitária”, completou.
Conquistas das comunidades quilombolas
Foto: Marco Santos / Ag. Pará
Na última segunda-feira (17), o governo do Pará, por meio da Seirdh e em parceria com diversas secretarias estaduais, realizou uma solenidade histórica marcada por entregas nas áreas de habitação, educação, saúde, regularização fundiária, cultura e inclusão social. O evento reuniu mais de 200 quilombolas de diferentes regiões, além de autoridades do Estado e do governo federal.
O governador Helder Barbalho e a vice-governadora Hana Ghassan apresentaram um conjunto de medidas que reforçam o compromisso com justiça racial e garantias de direitos nos territórios quilombolas. O Pará é o Estado que mais titula comunidades quilombolas no País, consolidando uma agenda permanente de fortalecimento territorial e proteção social. O chefe do Executivo estadual enfatizou o alcance histórico das entregas e o impacto direto na vida das comunidades.
“Chegamos a 57 títulos de comunidades quilombolas, é a maior entrega de todo o Brasil, podendo garantir direitos, garantir paz e, acima de tudo, proporcionar que este povo, com suas raízes e cultura, possa viver no território em harmonia. Além disso, enviamos para a Assembleia Legislativa um conjunto de leis que estruturam a política quilombola e extrativista tradicional do nosso Estado, para que esses direitos se tornem políticas de Estado, garantindo um ambiente seguro, tranquilo e com direitos assegurados”, afirmou.
Entre as medidas realizadas estão: • Envio à Alepa do Projeto de Lei que reserva vagas em concursos públicos estaduais para candidatos negros (10%), indígenas (5%) e quilombolas (5%). • Implementação do Novo Ensino Médio Quilombola e realização de consultas regionais para regulamentar a Educação Escolar Quilombola no Pará. • Construção de duas escolas quilombolas de ensino médio em Oriximiná e Salvaterra. • Assinatura da Lei de Assistência Estudantil da Uepa, garantindo bolsas para estudantes indígenas e quilombolas. • Lançamento do programa estadual de saúde quilombola, com atendimento itinerante, saúde mental e prioridade na regulação. • Entrega de 50 cheques do programa Sua Casa a famílias quilombolas de Abaetetuba. • Entrega oficial de Títulos Coletivos de Terra a 11 comunidades quilombolas. • Fomento cultural e econômico, incluindo o repasse de R$ 100 mil à Malungu para fortalecer manifestações culturais e jogos quilombolas. • Fomento ao afroturismo no aplicativo Visit Pará. • Doação de veículo e afetação de imóvel para a Malungu. • Garantia de internet de alta qualidade nos territórios. • Apoio da Semas no preenchimento do Sicar/PA, facilitando o CAR quilombola. • Avanços em infraestrutura, com recursos destinados à Defesa Civil e Corpo de Bombeiros para sistemas de abastecimento de água.
Comenda Maria Aguiar
A professora Sandra Guimarães foi uma das homenageadas com a Comenda Maria AguiarFoto: Divulgação
Ainda na segunda-feira (17), a Seirdh realizou a entrega da Comenda Maria Aguiar, honraria que celebra mulheres que se destacam na luta por equidade racial, fortalecimento das tradições afro-amazônicas e defesa de direitos. Ao todo, 20 mulheres foram homenageadas, entre elas educadoras, lideranças comunitárias, artistas e defensoras de direitos humanos.
Ano marcado por avanços históricos Ao longo de 2025, o governo do Pará realizou uma agenda contínua de fortalecimento das políticas de igualdade racial e garantia de direitos das comunidades quilombolas. Em outubro, por exemplo, a Seirdh deu posse aos integrantes do primeiro Conselho Estadual de Políticas para Comunidades Quilombolas, criado pelo Decreto nº 4.372/2024.
Composto por 40 conselheiros — representantes da sociedade civil e do poder público — o colegiado atua propondo, fiscalizando e monitorando políticas para os territórios. A criação do Conselho é considerada um marco histórico, pois é o primeiro do Brasil, garantindo participação direta das comunidades na formulação de políticas públicas.
A mobilização do Pará nas Conferências de Promoção da Igualdade Racial começou ainda nas etapas municipais, que contaram com apoio direto da Seirdh. As equipes da Secretaria, por meio da Diretoria de Igualdade Racial, acompanharam os municípios, ofereceram orientação técnica e incentivaram a realização dos encontros. No total, 27 conferências municipais foram promovidas com apoio do governo do Estado.
Com base nas discussões locais, a Seirdh realizou, nos dias 20 e 21 de agosto, a 5ª Conferência Estadual de Promoção da Igualdade Racial, em Belém, reunindo representantes da sociedade civil, especialistas e lideranças quilombolas e negras. O encontro consolidou as propostas prioritárias e definiu os delegados que representariam o Pará na etapa nacional.
O processo concluiu com a participação do Estado na 5ª Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial, em Brasília, para onde o Pará levou 63 delegados e apresentou 15 propostas construídas coletivamente.
Conferência Nacional de Promoção da Igualdade RacialFoto: Divulgação
As ações realizadas em 2025 consolidam um ciclo de transformação das políticas para quilombolas e para a promoção da igualdade racial no Pará. Com investimentos, participação social e políticas de longo prazo, o governo do Estado reafirma seu compromisso com a reparação histórica, a inclusão e a dignidade das populações negras e tradicionais.
Estado se destaca como o porta-voz de um modelo de economia verde, com uma gestão vanguardista no cuidado e ações sobre o tema
Por Jamille Leão (SEMAS)
Semas participa do painel “O Pará na Vanguarda da Bioeconomia Amazônica”, no Pavilhão Pará, na Green Zone da COP 30Foto: Lucas Maciel - ASCOM SEMAS
O Governo do Pará reforçou, na terça-feira (18), sua posição de protagonista no desenvolvimento da bioeconomia durante o painel “O Pará na Vanguarda da Bioeconomia Amazônica”, realizado no Pavilhão Pará, na Green Zone da COP30. A secretária adjunta de Bioeconomia da Semas, Camille Bemerguy, representou o Estado e apresentou a trajetória, o processo de construção e os resultados alcançados nos últimos anos para consolidar um novo modelo de desenvolvimento baseado na floresta.
Ao lado de representantes da Uepa, Fapespa e da equipe do enviado especial da COP30 para a Bioeconomia, Camille conduziu reflexões sobre políticas públicas, desafios estruturais e articulações institucionais que pavimentaram o caminho para que o Pará assumisse posições de liderança no cenário nacional e internacional.
Trajetória da bioeconomia paraense
O avanço da bioeconomia no Pará resulta de uma construção de longo prazo, ancorada em planejamento, colaboração e mudanças estruturais. O Estado chega à COP, após quase quatro anos de discussões, implementando mais ações dentro do PlanBio, entregando aparelhos como o Parque de Bioeconomia e monitorando de forma contínua as políticas bioeconômicas.
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“Acho que o Estado chega em 2025, após quase quatro anos entre discussão, implementação e monitoramento, para tirar lições aprendidas com elementos-chave muito importantes. Quando as discussões ganharam força no Pará, o debate global sobre bioeconomia ainda estava centrado em economia circular e transição energética, sem colocar a floresta como protagonista. A gente começa a discussão sobre bioeconomia quando a bioeconomia do mundo já tinha algum caminho, mas sempre pelo olhar muito mais de uma economia circular, sem a floresta como um ator que tinha a sua força e seu olhar atento enquanto processo de desenvolvimento econômico”, afirmou Camille.
Do carbono neutro às políticas estruturantes
Ela destacou que a virada de chave ocorreu quando o Estado estabeleceu seu plano para ser carbono neutro — inicialmente em 2036, posteriormente antecipado para 2030. A definição dessa meta provocou uma revisão estratégica que levou à criação de um eixo de desenvolvimento socioeconômico de baixo carbono.
Camille explicou como se deu a atuação do Governo nesse processo de entendimento das especificidades locais e regionais que teriam que ser levadas em consideração na realização desse plano. “O Estado estabelece toda uma estratégia de comando e controle, regularização ambiental e fundiária, mas principalmente definindo um eixo de atuação".
"Como é que eu construo um modelo econômico, um novo paradigma que fosse sustentável, que não deixasse ninguém para trás, que olhasse a floresta e seu potencial de crescimento e prosperidade. Bem, a partir desse diagnóstico, definiu-se que a bioeconomia seria um dos pilares para sustentar essa transição — não o único, mas um eixo estratégico capaz de gerar oportunidades e novos modelos produtivos.”
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Desafios que moldaram as políticas públicas
Durante o painel, ao ser provocada a refletir sobre como o Pará chegou à vanguarda da bioeconomia amazônica, Camille ressaltou a importância de compreender as barreiras que as políticas precisam enfrentar — especialmente no que diz respeito à viabilidade de mercado e à escala dos negócios bioeconômicos.
“Falando de bioeconomia, tem muitos desafios, para os quais é necessária uma política pública para que a gente possa caminhar para o desenvolvimento bioeconômico. Inclusive, a escala da bioeconomia. Sempre que a gente fala em bioeconomia, vem a pergunta: como que viabiliza isso no mercado, já que para viabilizar negócios, a gente precisa de escala?”.
Ela lembrou ainda que alcançar consensos foi um processo complexo, especialmente no debate sobre o próprio conceito de bioeconomia. “Não foi um processo de discussão fácil, porque se não houvesse colaboração entre diferentes atores, a gente podia passar quase uma vida discutindo qual é o conceito de bioeconomia. O que a gente tinha bem claro é que essa bioeconomia tinha que ser baseada em soluções baseadas na natureza.”, concluiu.
Integração entre governo, academia e mercado
Camille também reforçou que a articulação entre instituições foi fundamental para transformar diretrizes em estruturas concretas, hoje reconhecidas nacionalmente como referências. Os debates trouxeram a visão integrada entre governo, academia e mercado, destacando as lições aprendidas no processo. “Foram articulações para transformar em realidade o que temos hoje em termos de políticas públicas… um ecossistema de inovação que já responde às necessidades da bioeconomia. Não é certo tantos projetos, estudos, ciências desenvolvidas aqui, serem arquivadas, deixadas nas prateleiras do mundo acadêmico. Precisamos desses conhecimentos aplicados no plano desenvolvedor."
O Pará avança de forma consistente porque construiu, de forma colaborativa, um modelo que reconhece a floresta e as populações amazônicas como protagonistas de um novo ciclo econômico. O painel demonstrou que o Estado não apenas definiu metas ambiciosas, mas criou condições reais para alcançá-las — consolidando a bioeconomia como caminho estratégico para o desenvolvimento sustentável da Amazônia.
O momento simboliza mais do que a abertura de uma porta: representa um reencontro da cidade com uma espécie que, por décadas, havia desaparecido da paisagem urbana
O Parque Estadual do Utinga amanheceu diferente nesta segunda-feira (17). Entre o canto das primeiras ararajubas e a expectativa de pesquisadores, gestores e visitantes, o Governo do Pará realizou a soltura das primeiras 15 das 30 aves previstas para este ano em homenagem à COP30. O momento simboliza mais do que a abertura de uma porta: representa um reencontro da cidade com uma espécie que, por décadas, havia desaparecido da paisagem urbana de Belém.
A ação marca novo avanço do Projeto de Reintrodução e Monitoramento de Ararajubas na Região Metropolitana de Belém, realizado há oito anos pelo Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Pará (Ideflor-Bio), em parceria com a Fundação Lymington. Desde o início da iniciativa, 58 aves já foram devolvidas à natureza e outras sete nasceram em solo paraense, fruto de reprodução natural — um indicador poderoso de que a espécie começa, enfim, a se restabelecer no ecossistema local.
O governador do Pará, Helder Barbalho, participou da atividade e destacou o simbolismo do momento.
“Abrir essa porta e libertar essas aves representa repovoar a Amazônia. Espécies que antes eram dominantes voltam a viver plenamente em seu habitat. A pressão urbana afastou a ararajuba, mas, com este programa, estamos reintroduzindo dezenas de indivíduos para recuperar a atmosfera da nossa biodiversidade. Realizar esse gesto em plena COP30 reforça ao mundo que é possível conciliar desenvolvimento, conservação e vida na Amazônia legítima, pujante e sustentável”, afirmou.
Um esforço conjunto pela conservação
Essa conquista é especialmente significativa diante do cenário histórico. Até pouco tempo atrás, as ararajubas eram consideradas extintas nos arredores da capital. A maioria das aves que hoje sobrevoam Belém nasceu em cativeiro controlado na Fundação Lymington, em Juquitiba (SP), onde recebem cuidados veterinários, alimentação balanceada e estímulos comportamentais essenciais ao desenvolvimento. A viagem até o Pará inicia a fase mais sensível do processo: a aclimatação.
No aviário do Parque Estadual do Utinga, as aves permanecem de quatro a seis meses em um ambiente especialmente preparado para fortalecer suas capacidades naturais. Ali, passam por treinamentos de voo, socialização e avaliações de saúde rigorosas. A dieta também muda, incorporando frutos amazônicos como açaí, murici e uxi — etapa decisiva para que reconheçam alimentos do habitat ao qual estão prestes a retornar. É um período de reaprendizado e conexão com a floresta que as receberá.
O resultado desse esforço conjunto tem emocionado quem acompanha de perto a trajetória das ararajubas. Depois de décadas ausentes dos céus de Belém, elas voltaram a ser vistas em bandos, cruzando o horizonte com suas cores amarelo-ouro e verde vibrante. Esse renascimento desperta orgulho não apenas entre especialistas, mas também entre moradores que reencontram, na vida cotidiana, uma parte da memória ecológica da cidade.
Uma nova etapa e melhorias
O projeto ganhou novo impulso em abril de 2024, quando o Ideflor-Bio e a Fundação Lymington firmaram um Termo de Colaboração que permitiu ampliar estruturas do aviário, criar novos espaços de educação ambiental e instalar equipamentos interativos voltados ao público. A ampliação transformou o Utinga em um centro de referência em conservação da espécie e aproximou visitantes da ciência por trás da reintrodução.
Para o presidente do Ideflor-Bio, Nilson Pinto, o resultado é um exemplo de como o trabalho contínuo gera impactos duradouros. “O sucesso desse programa mostra que restaurar espécies ameaçadas é possível quando ciência e compromisso caminham juntos. As ararajubas voltaram para ficar, e cada ave libertada representa uma vitória para o Pará, para a Amazônia e para o futuro da conservação”, destacou.
O diretor de Biodiversidade do Ideflor-Bio, Crisomar Lobato, reforça que essa não é apenas uma ação ambiental, mas também educativa. “A ararajuba é um símbolo da Amazônia e do Brasil. Quando ela volta a ser vista livre, desperta identidade, pertencimento e responsabilidade. É uma espécie que ensina, que conecta as pessoas ao que estamos protegendo”, afirmou.
A Fundação Lymington, parceira desde o início do projeto, também celebrou a nova etapa. O biólogo Marcelo Vilarta, que acompanha diariamente o preparo das aves, explica que o trabalho visa fortalecer a população já estabelecida. Ele ressalta que os indivíduos soltos hoje passaram por treinamento intensivo de voo e alimentação com frutos nativos.
“Essa soltura reforça a população e diminui o risco de extinção local. O próximo grupo está em preparação e seguirá o mesmo processo, passando pelo aviário maior e depois por esta fase final antes da liberdade”, explicou.